Antigamente eu gostava de comprar livros nas livrarias. Nestes templos culturais tradicionais, permitia-me gastar muito tempo no garimpo da minha próxima aquisição. Experimentava os livros pelo toque; explorava seções inteiras, como também, tudo o que havia de um determinado autor. Esta jornada demorava, mas era uma espécie de seleção rigorosa que eu estabelecia para que, ao comprar algum título, não sofresse um arrependimento futuro. Até que…
Até que resolvi experimentar a nada romântica compra pela Amazon. Motivado pelo apelo econômico dos seus descontos, fiz a tal compra na nuvem. Recebi os produtos no prazo estipulado e bem acondicionados. Deu match! Voltei a comprar mais e mais, entretanto, acredito que despertei um estranho amor do algoritmo da Amazon por mim, pois, depois das compras, os anúncios dos livros dos meus escritores favoritos e temas relacionados às obras que adquiri, acompanham-me para todos os lados em minha vida na web. Agora sou perseguido por um algoritmo que tem uma estranha obsessão pelo meu bolso.
O algoritmo é responsável por sistematizar as entradas, processamentos e saídas dos dados ou interações dos indivíduos junto a algum site de compra, rede social ou sites de busca de informações. Lamento dizer, mas não há inocência no seu click de amei no Instagram, por exemplo. Registrada sua interação, a IA (inteligência artificial) da rede social associará ao assunto de sua preferência outros temas correlatos e, a partir daí, elencará mais e mais estímulos para mantê-lo ativo como usuário.
Mas o papel dos algoritmos não se resume às questões colocadas acima. Sua aplicação se estende a uma necessidade das organizações em se aprofundarem no entendimento do comportamento de compra e atitudes sócio-culturais dos seus consumidores. Assim, ao buscar compreender, as corporações antevêem condutas e/ou suas mudanças das pessoas. Aí está a grande sacada dos algoritmos para as empresas, ou seja, antes mesmo de decidirmos por um produto, ele estranhamente nos é ofertado e, mais bizarro nos parecerá, quando o produto nos for oferecido quando estivermos na web ouvindo um show de um cantor que gostamos!
O cálculo que o algoritmo realiza considera não apenas uma informação de compra ou interação social, mas um conjunto de ações na nuvem que definem seu perfil de consumo, social, político/ideológico e, após isto, estabelecerá um padrão particular de previsibilidade comportamental. Mais que isto, o algoritmo vai juntar você a outros que pensam e consomem igual a você. Assim, sua comunidade virtual estará delimitada.
Em IA (inteligência artificial) tudo é complexo para ser programado, mas é simples em oferecer resultados. Esta simplicidade não tem preço para os gestores corporativos. Hoje, não tenho como imaginar o planejamento de ações de relacionamento com clientes ou campanhas de marketing das grandes corporações sem a coleta de dados através dos algoritmos das redes sociais, sites de busca e sites de compras.
Enfim, o algoritmo é um grande aliado das pesquisas quantitativas e qualitativas, pois oferece a informação “quente” para o gestor, ou seja, reflete, sem filtros, o que de fato o seu consumidor prefere conforme suas ações diárias e não opiniões coletadas. Quando então ocorrem os cruzamentos de dados das fontes de pesquisa e dos dados dos “robôs” da nuvem, há a mitigação das chances de equívocos nas ações propostas no planejamento estratégico da companhia. Além do uso cada vez mais comum do GIS aplicado ao mundo dos negócios lastreados por algoritmos com fontes desconhecidas ou nem sempre confiáveis. Mas o geomarketing está aí para usar e abusar das ferramentas geoespaciais, aliando informações (primárias e secundárias) à experiência dos profissionais na atividade com os mapas digitais, ou melhor, os “queridinhos” mapas térmicos. É a grande oportunidade de conhecer e interagir de forma mais assertiva com o mercado consumidor.
Algoritmo, algoritmo… já que eu não tenho como escapar, prefiro me associar a você.
Adriano Sampaio
Diretor-Analista da Duplamente Pesquisas